21 de abril de 2006

Abanar a árvore



Às vezes apetece-me abanar a árvore onde estou agarrado. Abanar a árvore para que as folhas secas caiam. Não falo de folhas velhas, folhas doentes ou folhas sensíveis. Falo de folhas secas e sem vida. Folhas que, se de alguma vida gozam, é porque a absorvem das folhas verdes que querem fazer da árvore uma árvore mais forte, mais saudável, mais feliz. Uma árvore que dê frutos para todos e que faça sombra para que todos possam descansar quando estão cansados.
É mais fácil não olhar para a folha do lado, não querer saber, deixar andar, e , enquanto durar o meu aparente bem-estar e o meu umbigo estiver satisfeito, não me dar ao incómodo de querer abanar a árvore que, a todos, dá guarida. É mais fácil fazer de conta. É mais fácil deixar andar e fazer que não é nada comigo. E se amanhã tudo mudar? Se uma folha seca me atacar e eu não tiver como me defender dos parasitas que comigo coabitam?
Serei apenas um número entre tantos outros? Sim serei. Mas durarei nesta vida o tempo que cada um me guardar na sua memória. O tempo de um recordar. E no fim o que serei? Uma folha ao vento, feliz por participar, por fazer a minha árvore crescer, por ajudar a construir algo em que acredito. Por isso, vou continuar a abanar a árvore que me dá alimento.

2 comentários:

O País e o Mundo disse...

bela metáfora.
o que pode ser confortante é pensar que as folhas verdes são sempre mais que as secas e que há sempre remédios para os parasitas!
Obrigada pelo seu comentário.

Vido disse...

Olá o país e o mundo,

obrigado pelo comentáro. Há alturas em que, mesmo sabendo que existem remédios para os parasitas, é difícil manter a esperança. Bem-haja!